A vida e obra de Juan de la Cruz (Espanha, 1542-1591) até hoje, e creio que cada vez mais, fascina crentes e céticos por seu radicalismo, espírito revolucionário e potencial simbólico, entre tantas outras aberturas a que se presta. O patrono dos poetas espanhóis despertou meu interesse em 2011, durante uma viagem a Segóvia, e desde então os fatos biográficos e produções literárias dessa figura mística têm povoado a noite escura da minha alma. Da infância miserável, formação religiosa e encarceramento ao desmembramento de seu cadáver para veneração; da adoção do eu-lírico trovadoresco à relação entre gozo e espiritualidade, são camadas semânticas inesgotáveis de uma visão de mundo idealizada, idealizável, e ao mesmo tempo física, erótica.
Pretendo retomar o exercício de tradução de alguns dos poemas de Juan de la Cruz, explorando qualidades que me chamam atenção. Começo por uma breve cantiga chamada Del Verbo divino, em que o poder da imagem, condensada em quatro versos curtos, possibilita diferentes percursos poéticos em torno do mesmo tema. Não se trata de uma versão religiosa nem se pretende convencional, assim como tampouco o foi o sacerdote-poeta em seus escritos e ações, mas sim de um roteiro interno, móbile, um universo místico paralelo, em que a mitologia comum subjaz a outro viés da Imaculada Conceição, ressaltando o fruto carnal da comunhão divina.
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