Viagem a um deserto interior, de Leila Guenther, com ilustrações de Paulo Sayeg e orelha de Alcides Villaça, publicado em 2015 pela Ateliê Editorial com capa branca, imagem negra e tipos vermelhos no título, anuncia desde então seu contato com a disciplina e a assertividade discreta do Oriente, bem como com a falência de um Ocidente em que a cultura do excesso se revela desértica em nosso íntimo.
Leila caminha na linha de Paulo Sayeg com equilíbrio, mesmo quando o traço se tensiona em contorcionismos com referências cubistas, mesmo quando uma curva sutil transforma uma pera em objeto de luxúria. As ilustrações se comunicam com os poemas, manipulando a leitura, compondo algumas páginas que lembram ideogramas.
Sou grato à Leila, não apenas pela amizade, nem só pela generosidade e atenção com que leu cidade adeus antes de ser publicado, com suas sugestões tão precisas e preciosas, mas sobretudo por nos oferecer uma obra que viaja por extremos com sutileza e elasticidade. Lembro de Cabral quando fala da “bailarina feita de borracha e pássaro”.