Uma análise de consumidor nos mostra que a poesia tem encontrado seu habitat no mercado brasileiro a partir de uma onda de quantificação, com exceções muito bem-vindas, diga-se. Ou seja, enquanto os critérios de estudo e produção de literatura foram se dissolvendo ao longo das últimas décadas, temos verificado uma reação do mercado editorial de forma a suprir essa carência, por assim dizer, com a publicação de um sem-número de novos poetas e novas obras.
No caso da tradução de poesia, o que se verifica é um processo semelhante, embora dentro de um panorama um pouco menos privilegiado: ainda faltam traduções de livros de poesia e de poetas de todos os tempos. Ao mesmo tempo em que encontramos antologias de poesia galega – catalã, francesa, romântica, barroca – ou Shakespeare vertido para o português por um Millôr Fernandes em versões de bolso na banca de jornal da esquina, há outros tantos clássicos e/ou contemporâneos carecendo de maior inserção no mercado editorial brasileiro.
Um caso interessante, o do mexicano Octavio Paz, é digno de nota. Dos anos 1980, a versão do poema “Blanco” saída das mãos de Haroldo de Campos é uma aula, não apenas de tradução, mas de vida. “Transblanco” está no cerne de um diálogo marcado tanto pelo experimentalismo concretista como pelas linhas de força da discussão em torno da poesia na América Latina. Mais que isso, ao arejar a visada poundiana de tradução como crítica e fazer uso dessa prática como meio de criação, o grupo de Noigandres presenteou seus leitores com uma abordagem rica e inusitada do ato de traduzir.
Também da segunda metade dos anos 1980 é a versão de Horário Costa para o poema “Piedra de sol”, do mesmo Octavio Paz – publicação meio sumida, pela editora Guanabara –, que retorna em edição bilíngue e tratamento de luxo (capa dura de tecido e letras douradas) pelo selo Demônio Negro. Resgate mais que oportuno.